quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Santiago

No dia 19 de Outubro de 2007 dirigímo-nos para o avião tendo como destino a ilha de Santiago, a maior ilha de Cabo Verde. A ilha de Santiago, administrativamente está dividida em seis concelhos. A Cidade da Praia além de ser a capital de Cabo Verde, também é a cidade com um número mais elevado de habitantes.
 Após o ano de 1975, ao tornar-se independente de Portugal, a ilha de Santiago e mais concretamente a Cidade da Praia, manifestou um extraordinário desenvolvimento, principalmente a nível demográfico, tendo a população da ilha duplicado.
A primeira capital de Cabo Verde chamava-se Ribeira Grande de Santiago, conhecida como Cidade Velha, actualmente classificada como Património Universal da Unesco, após uma exaustiva pesquisa e uma EXCELENTE CANDIDATURA, coordenada pelo conceituado arquitecto português Álvaro Siza Vieira.
Visitámos na ilha, o afamado mercado de Assomada, a cerca de 50 Km a norte da cidade da Praia, só lamentámos não ter visitado o museu,  o  nosso tempo era muito limitado.
Por fim, o motivo que nos levou a visitar a ilha de Santiago, a norte da ilha , a cerca de 75 Km da cidade da Praia encontrava-se a Vila do Tarrafal, marca do passado ingloriosa da História do Estado Novo português, é nesta vila que se encontra o antigo Campo de Concentração do Tarrafal e o Museu da Resistência, sentimo-nos horrorizados com as torturas e castigos que se particavam neste local.
Para descontrair da pesada visita que fizemos ao antigo Campo de Concentração do Tarrafal, tomámos um inesquecível banho nas águas cristalinas da praia do Tarrafal, decorada por um fino areal de cor clara e envolta por exóticas palmeiras.



Fortaleza Real de São Filipe
fotografia de Cátia Salvado Fonseca


Quando os navegadores da armada portuguesa António Noli e Diogo Gomes descobriram a ilha de Santiago, em 1460, estabeleceram a primeira colónia portuguesa na Ribeira Grande (actualmente designada por Cidade Velha). A cidade prosperou como entreposto comercial, tinha como finalidade reabastecer navios e o tráfico negreiro. A sua orla costeira, extremamente vulnerável aos ataque dos piratas e corsários, teve como consequência o s declínio da Cidade Velha e transferência no ano de 1770 da capital sede de governo do arquipélago para a Cidade da Praia.
Os corsários que atacaram a Cidade Velha foram em 1585 Francis Drake e no ano de 1712 o pirata francês Jacques Cassard.
Santiago tem actualmente 260 mil habitantes, dos quais cerca de 120 mil residem na Cidade da Praia.



Fortaleza Real de São Filipe
Fotografia de Cátia Salvado Fonseca


O percurso que fizemos, no dia 20 de Outubro de 2007, tinha como destino a vila do Tarrafal. Primeiro dirigimo-nos para a Cidade Velha, onde visitámos o forte de São Filipe que, data do século XVI.
Contruida a Fortaleza Real de S. Filipe no reinado de Filipe II de Espanha e I de Portugal, no ano de 1587, tendo em conta os violentos ataques do corsário Francis Drake. Este monumento é considerado em Cado Verde um símbolo da identidade histórica nacional.
A Cidade Velha representa o berço da Cultura caboverdiana, actualmente classificada como Património da Unesco, ultrapassa o espaço de Cabo Verde e projecta-se no mundo.




Rua Banana
Fotografia de Cátia salvado Fonseca

A Rua Banana é a rua mais antiga de Cabo Verde, urbanizada por europeus, no ano de 1545, um navegador anónimo escreveu que a  cidade "tinha mais de 500 residências com boas casas de pedra e cal, onde moravam inúmeros fidálgos castelhanos e portugueses".
Visitámos de seguida o pelourinho, ou Picota, que foi construido em 1512. De estilo Gótico foi construido em mármore branco. Actualmente esta praça da Cidade Velha, continua a ser o centro da vida local, no passado era neste local que se realizava o mercado dos escravos.
Por último visitámos a Sé Catedral, da cidade Velha, que começou a ser contruida em 1556, única catedral de Cabo Verde, data do episcopado de D. Frei Francisco da Cruz. A sua contrução  terminou no ano de 1700. Foi saqueada pelo pirata francês Jacques Cassard, que a deixou totalmente danificada. Actualmente encontra-se em ruinas, que nos impressionam pelas suas dimensões colossais.


Jardim Botânico Nacional
Fotografia de Cátia Salvado Fonseca


Visitámos de seguida o alegre Jardim Botânico Nacional, e partimos finalmente para as ruinas do antigo Campo de Concentração do Tarrafal, e actual Museu da Resistência. Foi criado pelo Estado Novo, em 1936, com o objectivo de encarcerar presos políticos, opositores do Regime de salazar e encerrou as suas portas na década de 1970. Actualmente é considerado Monumento Nacional de Cabo Verde, mas está praticamente em ruinas.






Campo de Concentração do Tarrafal
Fotografia de Cátia Salvado Fonseca

 No regresso à Cidade da Praia conhecemos uma comunidade de "Rabelados", que vivem nas montanhas de Santiago, à margem da sociedade e não aceitam quaisquer regras sociais nem religiosas.
Partimos para Lisboa no dia 21 de Outubro de 2007, com a esperança de visitar as restantes ilhas de Cabo Verde e a cultura de um povo que há mais de 30 anos alcançou a indepência e liberdade.





Fotografias de Cátia Salvado Fonseca

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Fogo

O objectivo principal da nossa viagem foi visitar a ilha do Fogo, onde se encontrava a  minha irmã, a lady nurse, estagiária da AMI.
Djarfogo é uma ilha, não muito procurada por turistas,  ainda não foi contaminada pelo grande "fenómeno" da nossa Era, a indústria cultural, que em nome do progresso e da civilização, muitas vezes destrói o nosso Património, convertendo-o num produto cultural de assimilação e lucro fáceis. Defendo como museóloga, o progresso e a civilização de um Povo, através do RESPEITO pela sua cultura e  identidade, não a  aculturação ou massificação, um facto cada vez mais presente na nossa sociedade Ocidental.
A ilha do fogo é uma ilha apaixonante, envolvente, com cararterísticas únicas, paisagens deslumbrantes. O Fogo, tal como as outras ilhas caboverdianas é uma ilha de origem vulcânica. Destaca-se, também, das outras ilhas do arquipélago por causa da altitude do seu vulcão "pico do fogo", um vulcão que ainda se encontra activo. No ano de 1995 entrou em erupção pela última vez. Uma das características mais atractivas da ilha é a cratera do seu vulcão com 9 Km de largura e 1 Km de altura. Na parede oriental do vulcão está presente uma fenda e um pico enorme no seu centro, que constitui o ponto mais elevado da ilha 2829 m. Nesta ilha fazem-se escaladas para subir o vulcão "grande" o que normalmente demora 3 horas e outras 3 horas a descê-lo. Como o nosso tempo era limitado não escalámos o vulcão "grande", que deu o nome à ilha. Subimos, contudo, o vulcão pequeno, que esteve activo no ano de 1995 e descemos à sua cratera no dia 18 de Outubro de 2007. Uma experiência intimidante, estar dentro da cratera de um vulcão e percorrer toda a sua lava espalhada pelo solo.



Vulcão "Grande"



Parque Natural da Ilha do Fogo


Fotografias de Cátia Salvado Fonseca

A nível económico a ilha do fogo centra-se no seu potencial agrícola, produz vinho, café e diversos tipos de plantas. Djarfogo foi a segunda ilha do arquipélago a ser povoada, dois séculos após a sua descoberta em 1460. Povoaram,  então a ilha cerca de 2000 escravos que, se dedicaram ao cultivo do algodão e à tecelagem. No ano de 1680, o vulcão da ilha entra em erupção, e parte da população emigra para a ilha Brava. Eclode uma nova erupção, no ano de 1785, que fez erguer o "pico do fogo", o ponto mais alto da ilha. Durante a erupção a lava estendeu-se pela encosta nordeste da cratera, o que deu origem a uma saliência, que marca a ilha, e onde presentemente se encontra a Vila de Mosteiros. As erupções foram-se sucedendo, por vários séculos: em 1799, em 1847, em 1852 e 1857. Até à primeira metade do século XX, não existem registos de erupções. O vulcão acaba por regressar à actividade no ano de 1951 e em 1995.
Durante o século XIX, as erupções vulcânicas eram imprevisíveis,e por esse facto, muitos habitantes da ilha do Fogo alistaram-se nos balieiros norte-americanos e criaram nos E.U.A. uma comunidade de relevo.
Djarfogo, na actualidade tem cerca de 40 mil habitantes e a cidade de São Filipe é a sua capital, situada na costa ocidental da ilha.
 Era precisamente nesta cidade, de traça arquitectónica colonial - caracterizada pelos sobrados  - que  se encontrava a minha irmã, a lady nurse. Visitámos a cidade no dia 17 de Outubro de 2007.
A cidade  de São Filipe é habitada por cerca de 8 000 caboverdianos. O concelho homónimo é constituido, por grande parte da ilha do Fogo, que inclui a paisagem da cratera de Chã das Caldeiras e acolhe cerca de 27 000 habitantes. A cidade de São Filipe encontra-se localizada a sudoeste da ilha do Fogo, e a 40 m sobre o nível do mar. Em frente às rochas espande-se a praia de Fonte Bila (S. Filipe), marcadamente caracterizada pela sua areia fina de cor negra, registo fidedigno da presença do vulcão do Fogo, o único vulcão activo na arquipélago caboverdiano, que por sua vez define a cor do solo e o formato da ilha.



Igreja de São Filipe


São Filipe


 Praia de Fonte Bila (S. Filipe)


Fotografias de Cátia Salvado Fonseca

No dia 18 de Outubro partimos para mais uma expedição na ilha do Fogo, o nosso destino era Chã das Caldeiras, uma planície enorme situada no alto da montanha que constitui a ilha do Fogo. A estrada que de S. Filipe nos conduziu a Chã das Caldeiras, onde se situava o vulcão, era composta por uma paisagen amena e por algumas quintas abandonadas e picos vulcânicos. A paisagem surpreendeu-nos pelos maciços de lava presentes no solo, que nos conduziram ao interior da cratera do vulcão pequeno, o único que tivemos a possibilidade de escalar. Habitam neste local  cerca de 1200 caboverdianos. A paisagem está classificada como Reserva Natural.
 Chã das Caldeiras, ao longo da sua história, não só foi utilizada como local de passagem de caboverdianos que se dirigiam para Mosteiros, zona sul e São Filipe, como atraia muitas pessoas que iam em busca de produtos vulcânicos, como o sulfato de Sódio e  o enxofre, objecto de estudo de extrema importância na ilha.
Em Chã das Caldeiras, a paisagem é não só marcada por espeças camadas de lavas, como à sombra da grande bordeira encontramos alguma vegetação, e actualmente ainda se pratica a agricultura.
Na aldeia de Chã das Caldeiras visitámos a casa do senhor Montrond, comerciante de café e vinhos, aos 80 anos tinha 45 filhos e estava casado com uma jovem mulher. O senhor Montrond era descendente do excêntrico duque de Montrond que foi viver para a ilha do Fogo, na segunda metade do século XIX, introduzindo na ilha o cultivo da vinha.  Uma parte da população de Chã das Caldeiras, tem a pele clara e os olhos azuis, cabelo liso e claro, são os descendentes actuais do duque de Montrond.
Actualmente em Chã das Caldeiras a produção de vinho tem apoio italiano, constatámos este facto ao visitarmos a adega local.
Ao longo da nossa visita a Chã das Caldeiras também observámos a existência de animais, gado caprino e equideos em estado semí-sevagem, mas o que nos surprendeu mais profundamente foi a paisagem agreste e cinzenta causada pela última erupção do vulcão,  o facto de termos pisado a lava seca e descermos às profundezas do vulcão, uma experiência inesquecível e arrebatadora.









Subida ao Vulcão



Subida ao Vulcão "Pequeno"



Descida à Cratera do Vulcão


Fotografias de Cátia Salvado Fonseca

domingo, 5 de dezembro de 2010

Sal

Naquela madrugada do mês de Outubro de 2007, aterrámos no Aeroporto Internacional Amilcar Cabral, na ilha do Sal. A origem do seu nome é simples, resultou da descoberta de uma mina de sal mineral em Pedra de Lume, na cratera de um vulcão, corria o ano de 1833. O povoamento e desenvolvimento económico da ilha do Sal começou em pleno século XIX estendendo-se até ao ano de 1980, através da exploração das suas salinas. As crónicas de Diogo Gomes e António Noli relatam que, a ilha estava deserta quando foi descoberta no ano de 1460, contudo, estudos recentes revelam que os mouros já conheciam as riquezas salinas da ilha homónima.
 Presentemente a mina de sal existente em Pedra de lume está a ser explorada por italianos, que convidam o turista a boiar nos lagos saturados de sal. Vagueio, aquele circo fere a minha sensibilidade de museóloga, querem destruir o que resta daquela mina para transformá-la em mais um complexo turístico, logo naquele local  berço e identidade da ilha. Que bom seria poder musealizar aquele local paradisíaco, de certo que iria contribuir para o enriquecimento da Arqueologia Industrial caboverdiana e promover a indústria do turismo cultural. Não, a cultura não é incompatível com o progresso. Os caboverdianos também não concordam com a destruição do local, mas o investimento por parte de empresas portuguesas tarda em chegar, e as empresas italianas presentes procuram o lucro fácil, e preservar Pedra de Lume como símbolo identitário dos habitantes da ilha do Sal não é, nem nunca será, uma prioridade. 
Imagino aquele local daqui por mais alguns anos, e sinto-me uma pessoa privilegiada por ter conseguido chegar a tempo, e sentir a ilusão que um dia poderia salvar aquele local e quiça regresssar à ilha do Sal.











Fotografias de cátia Salvado Fonseca

Um Rio Há-de Correr em Cabo Verde

"Vinte anos de independência, vinte anos de luta contra a seca, vinte anos de teimosia.
Podem dez pequenas ilhas, metade África metade Atlântico sobreviver como País? Eles
acreditam que sim e fazem por isso. Talvez porque aqui, pesem todas as adversidades,se
mantém o deslumbramento. Quem viu as ilhas não as esquece mais".

Miguel Sousa Tavares, Sul, 2004



Fotografia de Cátia Salvado Fonseca