quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Fogo

O objectivo principal da nossa viagem foi visitar a ilha do Fogo, onde se encontrava a  minha irmã, a lady nurse, estagiária da AMI.
Djarfogo é uma ilha, não muito procurada por turistas,  ainda não foi contaminada pelo grande "fenómeno" da nossa Era, a indústria cultural, que em nome do progresso e da civilização, muitas vezes destrói o nosso Património, convertendo-o num produto cultural de assimilação e lucro fáceis. Defendo como museóloga, o progresso e a civilização de um Povo, através do RESPEITO pela sua cultura e  identidade, não a  aculturação ou massificação, um facto cada vez mais presente na nossa sociedade Ocidental.
A ilha do fogo é uma ilha apaixonante, envolvente, com cararterísticas únicas, paisagens deslumbrantes. O Fogo, tal como as outras ilhas caboverdianas é uma ilha de origem vulcânica. Destaca-se, também, das outras ilhas do arquipélago por causa da altitude do seu vulcão "pico do fogo", um vulcão que ainda se encontra activo. No ano de 1995 entrou em erupção pela última vez. Uma das características mais atractivas da ilha é a cratera do seu vulcão com 9 Km de largura e 1 Km de altura. Na parede oriental do vulcão está presente uma fenda e um pico enorme no seu centro, que constitui o ponto mais elevado da ilha 2829 m. Nesta ilha fazem-se escaladas para subir o vulcão "grande" o que normalmente demora 3 horas e outras 3 horas a descê-lo. Como o nosso tempo era limitado não escalámos o vulcão "grande", que deu o nome à ilha. Subimos, contudo, o vulcão pequeno, que esteve activo no ano de 1995 e descemos à sua cratera no dia 18 de Outubro de 2007. Uma experiência intimidante, estar dentro da cratera de um vulcão e percorrer toda a sua lava espalhada pelo solo.



Vulcão "Grande"



Parque Natural da Ilha do Fogo


Fotografias de Cátia Salvado Fonseca

A nível económico a ilha do fogo centra-se no seu potencial agrícola, produz vinho, café e diversos tipos de plantas. Djarfogo foi a segunda ilha do arquipélago a ser povoada, dois séculos após a sua descoberta em 1460. Povoaram,  então a ilha cerca de 2000 escravos que, se dedicaram ao cultivo do algodão e à tecelagem. No ano de 1680, o vulcão da ilha entra em erupção, e parte da população emigra para a ilha Brava. Eclode uma nova erupção, no ano de 1785, que fez erguer o "pico do fogo", o ponto mais alto da ilha. Durante a erupção a lava estendeu-se pela encosta nordeste da cratera, o que deu origem a uma saliência, que marca a ilha, e onde presentemente se encontra a Vila de Mosteiros. As erupções foram-se sucedendo, por vários séculos: em 1799, em 1847, em 1852 e 1857. Até à primeira metade do século XX, não existem registos de erupções. O vulcão acaba por regressar à actividade no ano de 1951 e em 1995.
Durante o século XIX, as erupções vulcânicas eram imprevisíveis,e por esse facto, muitos habitantes da ilha do Fogo alistaram-se nos balieiros norte-americanos e criaram nos E.U.A. uma comunidade de relevo.
Djarfogo, na actualidade tem cerca de 40 mil habitantes e a cidade de São Filipe é a sua capital, situada na costa ocidental da ilha.
 Era precisamente nesta cidade, de traça arquitectónica colonial - caracterizada pelos sobrados  - que  se encontrava a minha irmã, a lady nurse. Visitámos a cidade no dia 17 de Outubro de 2007.
A cidade  de São Filipe é habitada por cerca de 8 000 caboverdianos. O concelho homónimo é constituido, por grande parte da ilha do Fogo, que inclui a paisagem da cratera de Chã das Caldeiras e acolhe cerca de 27 000 habitantes. A cidade de São Filipe encontra-se localizada a sudoeste da ilha do Fogo, e a 40 m sobre o nível do mar. Em frente às rochas espande-se a praia de Fonte Bila (S. Filipe), marcadamente caracterizada pela sua areia fina de cor negra, registo fidedigno da presença do vulcão do Fogo, o único vulcão activo na arquipélago caboverdiano, que por sua vez define a cor do solo e o formato da ilha.



Igreja de São Filipe


São Filipe


 Praia de Fonte Bila (S. Filipe)


Fotografias de Cátia Salvado Fonseca

No dia 18 de Outubro partimos para mais uma expedição na ilha do Fogo, o nosso destino era Chã das Caldeiras, uma planície enorme situada no alto da montanha que constitui a ilha do Fogo. A estrada que de S. Filipe nos conduziu a Chã das Caldeiras, onde se situava o vulcão, era composta por uma paisagen amena e por algumas quintas abandonadas e picos vulcânicos. A paisagem surpreendeu-nos pelos maciços de lava presentes no solo, que nos conduziram ao interior da cratera do vulcão pequeno, o único que tivemos a possibilidade de escalar. Habitam neste local  cerca de 1200 caboverdianos. A paisagem está classificada como Reserva Natural.
 Chã das Caldeiras, ao longo da sua história, não só foi utilizada como local de passagem de caboverdianos que se dirigiam para Mosteiros, zona sul e São Filipe, como atraia muitas pessoas que iam em busca de produtos vulcânicos, como o sulfato de Sódio e  o enxofre, objecto de estudo de extrema importância na ilha.
Em Chã das Caldeiras, a paisagem é não só marcada por espeças camadas de lavas, como à sombra da grande bordeira encontramos alguma vegetação, e actualmente ainda se pratica a agricultura.
Na aldeia de Chã das Caldeiras visitámos a casa do senhor Montrond, comerciante de café e vinhos, aos 80 anos tinha 45 filhos e estava casado com uma jovem mulher. O senhor Montrond era descendente do excêntrico duque de Montrond que foi viver para a ilha do Fogo, na segunda metade do século XIX, introduzindo na ilha o cultivo da vinha.  Uma parte da população de Chã das Caldeiras, tem a pele clara e os olhos azuis, cabelo liso e claro, são os descendentes actuais do duque de Montrond.
Actualmente em Chã das Caldeiras a produção de vinho tem apoio italiano, constatámos este facto ao visitarmos a adega local.
Ao longo da nossa visita a Chã das Caldeiras também observámos a existência de animais, gado caprino e equideos em estado semí-sevagem, mas o que nos surprendeu mais profundamente foi a paisagem agreste e cinzenta causada pela última erupção do vulcão,  o facto de termos pisado a lava seca e descermos às profundezas do vulcão, uma experiência inesquecível e arrebatadora.









Subida ao Vulcão



Subida ao Vulcão "Pequeno"



Descida à Cratera do Vulcão


Fotografias de Cátia Salvado Fonseca

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